domingo, 29 de novembro de 2009

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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Entrevista a João Pedro Fonseca - presidente da direcção da Associação Beira Aguieira de Apoio ao Deficiente Visual

Direto de Portugal.

“Sabemos, desde o início, que estamos a colocar na posse de um cão a vida de uma pessoa”.

“Dez anos de cães-guia em Portugal” foi o tema do sarau comemorativo do décimo aniversário da Associação Beira Aguieira de Apoio ao Deficiente Visual, Escola de Cães Guia para Cegos – Mortágua, que se realizou no passado dia 17 de Outubro. Para assinalar a data, Mónica Sofia Lopes, do Jornal da Mealhada, entrevistou João Pedro Fonseca, presidente da direcção e fundador desta associação, que fez um balanço positivo dos dez anos da escola e ainda deu a conhecer os projectos futuros para que a resposta dada aos cegos que procuram um cão-guia seja cada vez mais rápida e eficaz.

Como nasceu esta Escola de Cães Guia para Cegos?
A ideia surgiu quando eu leccionava a disciplina de Produção Animal, na Escola Profissional Beira Aguieira, há bem mais de dez anos. Na altura, o professor Júlio Paiva, que trabalha com cegos há quarenta anos, lançou-me o repto de fazermos aquilo que não existia na altura em Portugal – único país da Europa em que isso acontecia -, o da criação de uma Escola de Cães-guia para Cegos. Tínhamos todos os factores para que isso fosse possível: Júlio Paiva tinha todo o conhecimento teórico necessário, eu sou veterinário de profissão e ainda estávamos numa escola profissional que dava alguma estrutura para que se pudesse apostar numa candidatura.

Rapidamente passou da ideia…
Estas coisas têm as suas burocracias e é necessário que exista sempre uma entidade forte, jurídica e financeiramente, que “invista” naquilo a que se chama planificação e fase de preparação. A Escola Beira Aguieira acarinhou o projecto e fizemos a candidatura.
O projecto foi aprovado para os anos de 1996 a 1999 e tivemos duas parcerias com escolas europeias: uma sueca e outra francesa. A parceria sueca não teve propriamente um papel decisivo e interventivo em todo o processo, mas foi importante aos níveis teórico e de supervisão. A parceria francesa – com a Federação Francesa da Escola de Cães-guia para Cegos, por outro lado, teve um papel preponderante, decisivo e com a qual ainda hoje mantemos uma relação estreita, pois considera-nos praticamente sua filiada. Eles têm onze escolas e dizem que nós somos a décima segunda.

E porque foram necessárias essas parcerias?
Porque era preciso que os nossos educadores tivessem formação, uma vez que em Portugal não existia. Júlio Paiva e a própria Federação Francesa ajudaram-nos a fazer uma selecção e a definir o perfil dos candidatos, que tivemos na altura. Os nossos parceiros nacionais eram, para além da promotora Escola Beira Aguieira, a Câmara Municipal de Mortágua, a Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) e a Direcção Regional de Educação do Centro (DREC), que também nos ajudou muito no processo de pré-selecção dos educadores.
Foi aqui que começou uma espécie de aventura pois seleccionamos dois candidatos e mandámo-los para França, durante três anos, para terem formação de educadores. O terceiro ano já foi cá e lá. Estes cursos em França são feitos de dois em dois anos e apenas exigem que os candidatos tenham o décimo segundo ano, apesar disso, os nossos educadores têm formação de nível superior.

Nessa altura a grande aposta foi a de formar educadores?
Sim, nesta altura, apostamos fortemente nisso, sem isso não se podia avançar, obviamente. Também apostamos na construção física, isto é, na construção de todos os equipamentos que estão aqui hoje, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER). Nesse ano - 1999 -, não se construiu tudo o que aqui está hoje, a escola era mais pequena, e apenas tínhamos dois blocos: o bloco administrativo e um bloco técnico.

O que seguiu depois de investirem em formadores e em edifícios?
Metemos mãos à obra e fomos bater à porta do nosso maior patrocinador, que é a Segurança Social. Constituímos uma associação - Associação Beira Aguieira de Apoio ao Deficiente Visual -, que é uma Instituição Particular de Solidariedade Social.

Quem são os sócios fundadores desta associação?
São os parceiros do projecto: Escola Beira Aguieira, Câmara Municipal de Mortágua, a ACAPO e a DREC. Depois tivemos também a ajuda de um conjunto de pessoas a título individual – cerca de vinte e cinco -, que, na altura, se envolveram no projecto. Hoje esse número aumentou bastante, uma vez que, entre sócios efectivos e sócios apoiantes, temos mais de quatrocentos.
O nosso novo parceiro nesta parte foi a Segurança Social, com quem estabelecemos um acordo atípico que nos garante cerca de dois terços – sessenta por cento -, do nosso orçamento anual.

E porquê um acordo atípico?
O apoio que a Segurança Social dá às IPSS e às associações sem fins lucrativos é baseado em acordos por utente, isto é, dão uma determinada quantia de dinheiro por cada pessoa. Para a nossa associação teve que ser um acordo atípico, uma vez que não é possível tipificar esta ajuda, ou seja, tivemos que adaptar o acordo à nossa realidade. Desta forma, a Segurança Social dá-nos uma quantia fixa em dinheiro por cada cão produzido. Dão-nos o dinheiro de doze cães por ano, que são os que garantimos, contudo, normalmente, produzimos mais um ou dois, mas que não recebemos mais dinheiro por isso. É uma verba fixa.
O resto do orçamento desta escola adquirimos através das receitas dos sócios, dos eventos organizados, do “merchandising”, das campanhas de solidariedade, dos apoios da Câmara Municipal de Mortágua e de donativos que, felizmente e ao fim de uma década, começam a aparecer com algum significado.

O que é um cão-guia e para que serve?
O cão-guia – cães labradores, essencialmente, e de raça Golden também - começa por nascer aqui na escola, pois temos o nosso próprio sistema de reprodução. Por vezes, também trabalhamos com cães franceses, que nos são oferecidos pela Federação Francesa de Cães-guia, que continua a ser a nossa madrinha. Os cães que vêm de França já estão seleccionados, mas os das nossas ninhadas têm que ser seleccionados. Os que não ficam na escola são dados à troca, isto é, as pessoas dão um donativo e ficam com o cão. Os cães que são seleccionados no segundo mês de vida, após o desmame, são colocados nas famílias de acolhimento.

E o que são as famílias de acolhimento?
As famílias de acolhimento são uma peça fundamental de toda esta máquina. São famílias que voluntaria e generosamente aceitam estes cães em suas casas e cuidam deles até que façam um ano ou catorze, quinze meses. Estas famílias ensinam os cães a viverem em família, a saberem estar numa casa e a terem regras, como por exemplo, não saltarem para os sofás, não fazerem as necessidades dentro de casa, não chatearem os donos quando estão a comer e ensinam que dentro de casa há locais proibidos.
A escola dá todo o apoio a estas famílias em termos médico-veterinários, técnicos – acompanhamento dos nossos educadores – e de alimentação, isto é, não existem despesas para estas famílias.

É feita uma triagem às famílias de acolhimento?
As famílias candidatam-se – temos famílias em Viseu, em Coimbra e em Aveiro -, e antes de os cães irem, os nossos educadores vão fazer uma triagem às casas. Só aceitamos famílias dentro do eixo distrital que referi porque é necessário que estejam perto da escola para que os nossos educadores, semanalmente ou quinzenalmente, levem ração às casas de acolhimento.
A família tem que obedecer a determinados requisitos, como por exemplo, pertencer a uma casa onde esteja sempre gente, o cão não pode estar preso numa corrente de um canil dias inteiros – nem pensar nisso -, e a família, independentemente de viver num apartamento, tem que ter disponibilidade para educar o cão.
Cada cão permanece com a sua família de acolhimento até aos quinze meses, no máximo, e é acompanhado, no mínimo duas vezes por mês, pelo formador que no futuro vai trabalhar esse cão.

Quantos formadores tem esta escola?
Neste momento temos três educadores: Duas trabalham mais para a zona oeste e sul, vão para Coimbra e para a zona de Aveiro, e outro trabalha mais para o lado de Viseu.
Quando o cão regressa das famílias de acolhimento começa a sua educação específica com o educador. Faz um treino, nunca mais de uma hora e meia, por dia, durante cerca de oito meses.
Para além dos três formadores, temos também um pré-formador, que é um técnico que prepara os cães até um ponto muito forte - como por exemplo, o de ensinar a parar nas passadeiras e a subir lancis de passeios - para que depois o formador só o tenha de terminar e se debater com os pontos mais específicos de cada cego. O pré-educador potencia muito o trabalho do educador, isto é, poupa-lhe muito tempo.
Todo este trabalho dos formadores também pode ser maior ou menor, dependendo dos conhecimentos que os cães adquiriram com as famílias de acolhimento.
Nesta fase de treinos, entra também a família de fim-de-semana que acolhe o cão para que não fique dois dias enfiado no canil. Muitas vezes é a própria família de acolhimento desse cão que assume os seus fins-de-semana.

Quando é que um cão guia fica pronto para ser entregue a um cego?
Nunca antes dos vinte e quatro meses porque há cães que aos vinte meses são tecnicamente perfeitos, mas falta-lhes a maturidade necessária para tomarem decisões. Este aspecto da maturidade é o que os distingue de todos os outros cães.
O treino destes cães é feito muito na base da obediência, mas depois há uma grande parte de treino da decisão, isto é, o cão tem que ser treinado para desobedecer. Um cão pode ser tecnicamente perfeito e saber contornar um obstáculo, saber qual a mesa que está vaga num restaurante, saber onde fica a caixa de multibanco, saber ir à farmácia, saber atravessar uma rua e saber virar à esquerda e à direita, por exemplo, contudo, há um conjunto de situações que o cão tem que saber decidir, momentaneamente, e para isso necessita de maturidade.

Que tipo de decisões podem ser essas?
Imagine, por exemplo, que um carro está estacionado em cima de um passeio. O cego manda o cão ir em frente, mas o cão depara-se com o obstáculo e tem que cortar à direita, seguir em frente e voltar à esquerda, isto é, tem que contornar o veículo e regressar ao passeio. Ao fazer isto tomou uma decisão sozinho, desobedecendo ao seu dono que o mandou seguir em frente. É necessário que o cego confie no seu cão e se deixe ser guiado.
Vou dar-lhe um exemplo ainda mais difícil e que aconteceu com um cão nosso. Um dia um cego nosso que costumava apanhar o comboio, na linha do norte, para Vila Franca de Xira, ia um pouco distraído e, ao chegar à estação, achou que o cão tinha parado muito antes da plataforma. Mandou de imediato o cão andar para a frente pois queria entrar logo, mal o comboio chegasse. O cão não só não obedeceu à ordem como ainda se colocou à frente do dono, mas o cego foi persistente e acabou por empurrar o cão. Conclusão, acabaram os dois por vir parar à linha do comboio. O cão desobedeceu activamente, isto é, tomou uma decisão por si só e ainda desobedeceu a uma ordem. Na prática isto reflecte uma grande maturidade, que só se consegue ter ao fim de algum tempo.

Os cães são trabalhados mediante o perfil de cada cego?
Não. Os nossos educadores quando começam a trabalhar o cão não sabem exactamente para quem ele vai. No futuro será diferente, vamos começar a trabalhar um cão para o perfil do futuro candidato. Neste momento, e como temos uma lista de espera muito grande, quando o cego se candidata o cão que está pronto pode não ser exactamente adequado aquela pessoa.
Por exemplo, há cães dominantes e cães que gostam de ser dominados. Temos que entregar um cão que seja muito enérgico a uma pessoa que tenha capacidade de o dominar. Esta percepção conseguimos já tê-la, muitas das vezes, nas nossas entregas.

E como a conseguem ter?
Quando escolhemos o cão e o candidato, os dois vivem aqui uma semana nas nossas instalações. Começam a fazer os trajectos mais simples por Mortágua, nos primeiros dois dias, e ao terceiro, quarto dia começam a ir para Coimbra, Viseu, etc. Depois treinamos mediante o local onde o cego reside, isto é, focando as regras do ambiente rural ou do ambiente urbano.
No último dia de estadia aqui na escola fazemos uma “festa”, onde também está presente a família de acolhimento do cão. Este encontro serve para serem estabelecidos laços entre a família e o utilizador, para que as pessoas percebam onde estão os frutos do seu trabalho. É uma pequena homenagem ao cão.

E o cão parte com o utilizador…
Sim e sem arnês, que é uma trela em ferro para que o cego tenha uma maior percepção dos movimentos que o cão faz. Vão embora e passam esse fim-de-semana juntos. Na segunda-feira, a educadora vai para ao pé deles, seja lá onde for o local de residência do utilizador. Tudo isto serve para que o processo emocional do cão passe do educador para o cego. Ao fim de oito dias o cão já está mais fixado no cego do que no educador. Nesta altura, são feitos todos os trajectos do dia-a-dia que o utilizador costuma fazer.
Quando o educador vem embora, ao fim de uma semana, dá-se inicio a um processo de acompanhamento muito grande por parte do educador. Só ao fim de três meses é que consideramos que a entrega foi consumada.

Existe algum acordo quando se chega a esta etapa entre o cego e a escola?
Estabelece-se um contrato em que se dá o uso de propriedade do cão ao utilizador. Apenas isso porque o cão até morrer é sempre da escola. Já chegámos a ir buscar alguns cães a cegos que não os tratavam bem.

Antes da entrega dos cães, os cegos também são avaliados e entrevistados para poderem receber um cão?
De seis em seis meses chamam-se uma dúzia de candidatos à escola para serem avaliados. É preciso dizer-se que muitos cegos, apesar de quererem, não têm autonomia, para ter um cão. Um cego necessita de ter autonomia para que um cão o possa auxiliar.

Mas não é o cão guia que dá a autonomia que o cego não tem?
Vou contar-lhe uma história: Uma vez estivemos aqui em reunião, eu, o Governador Civil de Viseu e uma nossa utilizadora, que reside no Porto. O Governador Civil perguntou à senhora o que fazia o seu cão. Ela respondeu-lhe com uma pergunta: “Em que é que o senhor pensa quando vai para o trabalho?”. Obviamente, que ele lhe disse que pensava em muitas coisa, como por exemplo, no dia que ia ter, nos problemas que estavam resolvidos, nos que tinha por resolver, e por ai fora. E ela disse-lhe isto: “Desde que tenho o meu cão faço como o senhor, vou a pensar na vida, porque o cão guia-me. Até o ter, ia a pensar nas poças da água e nos postes em que podia bater com a cabeça”.
Eu pergunto: Então isto não é dar autonomia? Sem o cão, até o deslocamento para o trabalho pode ser penoso, difícil e discriminatório para o cego. Um cego de bengala sofre discriminação porque toda a gente se afasta para ele poder passar. Com um cão, o cego passa a ser um cidadão, que vai com a mão direita no bolso e ninguém dá por ele.
O cão serve não só para dar a autonomia motora, mas também para ajudar na parte emocional e de auto-estima de um cego. Por isso é que o lema dos dez anos comemorativos da escola foi “Mais mobilidade, mais liberdade”.

A relação do cego com o cão é sempre bem sucedida?
Nem sempre e, por isso, estamos a tentar obter uma coisa, que não fazíamos até aqui, que é a visita domiciliária de uma psicóloga ao candidato. Temos várias casas em que está tudo bem, a pessoa até tem autonomia, mas passado algum tempo temos que ir buscar o cão, porque este vai interferir um bocado com o ambiente familiar do cego. Tivemos já casos graves na nossa associação, como por exemplo, uma esposa que andava a envenenar o cão pois o marido com o animal já não precisava tanta da ajuda dela.

Um cão-guia tem permissão para entrar em qualquer sítio?
Um cão-guia entra em qualquer sítio público – teatros, cinemas, restaurantes, táxis, autocarros, barcos, aeronaves, cafés -, mediante um decreto-lei, que existe em Portugal e que foi discutido connosco. Esta lei introduziu novos conceitos: o conceito de coima, o conceito de cão de assistência – para cegos, surdos e serviços (cães para os deficientes motores) – e a credenciação – eu prescindia de tudo menos deste último ponto, pois a nossa associação é creditada internacionalmente.
Os cães podem entrar em qualquer lugar, com o educador, a família de acolhimento e o utilizador. Apenas há um sitio que é salvaguardado, que são os hospitais, mais por uma questão ética, social e moral, do que por uma questão interventiva na saúde publica.
Quem barrar a entrada a um cego com um cão guia sofre uma coima. Em Viseu já foram dadas duas.

A lista de espera para estes cães é muito grande?
É enorme e os nossos formadores só conseguem produzir doze, no máximo catorze, cães por ano. Temos duas listas de espera: uma são dos candidatos que já estão seleccionados – vinte e quatro -, estes estão mesmo há espera de cão, e depois temos outra lista – mais de quarenta – que são pessoas que estão candidatadas mas ainda não estão seleccionadas.
Ora se nós produzimos doze a catorze cães por ano e temos uma lista de vinte e tal mais quarenta, isto dá-nos uma média de espera de quase quatro anos.

O que é que isso quer dizer?
Quer dizer que temos crescer, temos que produzir mais cães. Sabemos que para produzir cães precisamos de mais educadores, mais cães, mais canis, mais obras, mais dinheiro e mais salários. Não podemos crescer só por crescer, isto é, temos que acautelar o futuro.
Neste momento, precisamos de produzir mais cães, em primeiro lugar, porque temos que acabar com a lista de espera e, em segundo lugar, porque sabemos que os cães não são eternos, isto é, têm um tempo de vida útil de cerca de nove anos e nós, dos oitenta e tal cães que já entregamos, onze foram substituições. Os cães são seres vivos, logo, também têm mortes súbitas, artroses, etc., e outros estão vivos, mas já não têm condições para trabalhar. Se nós não crescermos, dentro de alguns anos, é expectável que comecemos a trabalhar em circuito fechado.

E o que vai ser feito?
No ano de 2010 vamos avançar com a construção de mais uma fila de canis e vamos colocar mais pessoal. Vou inverter o jogo e em vez de ficar eternamente há espera que me apoiem, decidi avançar para depois para depois ser apoiado.
A Segurança Social dá-me o dinheiro equivalente aos cães que produzo por ano e, portanto, não lhes posso dizer que vou produzir dezasseis cães no próximo ano porque isso não seria possível. Para que isso venha a acontecer temos que formar pessoas.

Quanto custa a cada escola formar um cão?
Custa à volta de dezassete, dezoito mil euros. Muitas vezes este investimento é perdido, quando surgem situações complicadas, em que os cães morrem ou sofrem algum problema de saúde.

Não haveria necessidade de haver outra escola em Portugal, com o apoio de outras entidades?
Não temos o dom da exclusividade e por isso estamos sempre dispostos a ajudar. Acho que há lugar para todos porque a lista de espera é enorme. Agora uma coisa é certa, mesmo que venha a existir outra associação, ela tem que cumprir com os pressupostos que nós cumprimos, isto é, há regras que fazem parte de uma legislação internacional que têm que ser cumpridas. Só pode produzir cães-guia para cegos quem estiver acreditado para tal e para isso acontecer tem que se cumprir com regras muito concretas e específicas. Sabemos, desde o inicio, que estamos a colocar na posse de um cão a vida de uma pessoa.

A escola comemorou, recentemente, dez anos. Que balanço faz do sarau?
Foi uma festa muito bonita, que teve a participação dos elementos do Clube Português de Utilizadores de Cães-guia. “Maior mobilidade, mais liberdade” foi o tema deste encontro. No sarau actuaram: o nosso utilizador Ricardo Martins, que fez um hino da escola, um grupo de músicos do conservatório, um grupo de juvenil de Mortágua e também um grupo de fados de Coimbra, que se quis juntar à nossa festa.
No final, fiz alguns agradecimentos que eram necessários: Aos nossos sócios apoiantes, efectivos – que têm direito a voto –, beneméritos e honorários – que são os fundadores. Aproveitamos a ocasião para fazer onze sócios beneméritos – empresas e instituições. Depois também agradeci a uma lista exaustiva de pessoas – mais de sessenta -, pela ajuda que sempre nos deram, uma vez que esta escola funciona muito à base do voluntariado, às famílias de acolhimento e aos escuteiros, que apoiam sempre as nossas iniciativas.

Qual será a próxima comemoração?
A próxima comemoração será no ano 2011 quando dermos a um cego o cão número cem. Quando entregámos o quinquagésimo cão, publicámos uma revista - “Dupla cinquenta” -, onde está o testemunho de cada cego utilizador. Para o número cem, o projecto ainda está a ser pensado, mas terá que ser uma coisa com mais qualidade e tem que ser abordada de outra forma